Cinco lições de Mano Menezes para administrar talentos e conflitos de geração

Assim como o técnico da seleção brasileira, empresas também enfrentam o desafio de conciliar juventude e experiência
São Paulo – No intervalo da zerada estréia do Brasil na Copa América, o técnico da Venezuela foi reclamar com o atacante Neymar por o jogador não ter colocado a bola para fora de campo para ser feito o atendimento médico a um jogador venezuelano. Mano Menezes correu para apartar a discussão. A justificativa do técnico foi que o adversário não teria direito de dar essa bronca, apenas ele. 
O trabalho de Mano Menezes à frente da seleção ainda é muito recente, por isso não dá pra apontar características definitivas, mas já é possível ver algumas características de sua gestão que podem ser transpostas para o mundo dos negócios – além das tradicionais “disciplina” e “trabalho em grupo”. 
A habilidade de resolver conflitos é uma das características de Mano Menezes que pode ser transposta para o mundo dos negócios. As missões desse CEO ainda incluem administrar jovens talentos milionários e lidar com mais de 180 milhões de clientes apaixonados. 
Conflitos 
Mano Menezes foi técnico do Corinthians quando Ronaldo jogou no time. Na época, o jogador era muito criticado por conta da sua forma física e desempenho que deixava a desejar.
Nesse contexto, Menezes conseguia fazer os demais jogadores perceberem a importância de Ronaldo em campo, e se esforçavam mais, segundo Roberto Hirsch, da Pós-Graduação da ESPM. “Isso se atribui a uma competência de Mano, tirar o melhor de cada um e montar a equipe, que não é de um jogador só”, disse.
Para o time, não adianta ter um bom ataque sem uma boa defesa, sem alguém que roube a bola do time adversário. “Dentro de uma empresa eu preciso desde o técnico mais brilhante para inovar até o que coloca a mão na massa”, disse.
Mistura de gerações
Uma das característica de Mano destacadas por Hirsch é sua capacidade de trabalhar com jovens. O time brasileiro que disputou a última Copa do Mundo, tinha média de 29 anos. Mano escolheu jogadores cuja média de idade soma 23 anos, e inclui as gerações X (Júlio César e Lúcio, por exemplo, tem 30 e 33 anos, respectivamente) e Y (Como Ganso e Alexandre Pato, ambos de 21 anos). E Menezes, por sua vez, pertence à geração baby boomer.
Saber misturar gerações também é importante para os gestores, segundo Hirsch. “Se o gestor de empresas não tiver isso (souber lidar com diferentes gerações) hoje não se consegue nada”, disse.
Estrelas
Um dos pontos principais para um técnico da seleção brasileira é saber administrar pessoas ricas, bem sucedidas e com ego inflado. “Ele tem que ser um maestro para equilibrar os interesses do grupo e do individuo”, disse Amir Somoggi, sócio da BDO RCS.
Para lidar com as estrelas, o gestor também precisa de humildade. “Saber ser líder sem ser a estrela é uma grande característica, o bom líder é o que brilha atrás das estrelas, fica por trás do sucesso do projeto”, disse Hirsch.
“Duvido que alguma empresa tenha em dinheiro e visibilidade alguém que se compare a um jogador de futebol”, disse Somoggi. Além disso, os jogadores não são remunerados na seleção, mas ganham a premiação – um bônus caso alcancem a meta. 
Dar um sentido maior ao trabalho
Para estimular os jogadores, explora-se a visibilidade internacional que a seleção proporciona, o prestígio, a oportunidade de receita com campanhas publicitárias e o patriotismo – valor que pode ser aproveitado pelas empresas, não com o sentido de pátria, mas de fazer o funcionário vestir a camisa do empregador. 
As empresas ainda tem muita dificuldade em extrair dos funcionários, especialmente da geração Y, a paixão, segundo Somoggi. “As pessoas trabalham muito por dinheiro e pouco por amor”, disse.
Cultura da empresa
“Você não pode tentar mudar a cultura da empresa”, segundo Somoggi. O estilo de Dunga à frente da seleção era de um jogo mais duro, com um estilo agressivo dentro de campo, contra a cultura do futebol brasileiro. Já Mano Menezes parece ser adepto de um jogo mais leve, seguindo a tradição nacional.
“Parece que Menezes vem com um intuito de tirar o estigma de guerra que o Dunga tinha criado”, disse. Mas a mudança de estilo não necessariamente veio de Menezes, ela pode ter sido definida pela CBF, segundo Somoggi, e é simplesmente seguida pelo treinador.
Nesse sábado, a seleção brasileira joga contra o Paraguai. É grande a expectativa de que o jogo tenha um resultado melhor do que zero a zero. A cobrança sobre o time se explica. Entre 1970 e 1994, quando a seleção não ganhou nenhuma Copa do Mundo, o time tinha seu valor, mas depois do título, a receita da CBF aumentou, segundo Somoggi. Em 2003, o faturamento era de 110 milhões de reais, com 80 milhões de reais de patrocínio. Somente em 2010, o faturamento da CBF foi de 271,2 milhões de reais, com 193 milhões de reais em patrocínio.
Mano Menezes também afastou a religião de dentro de campo. Ele não impede que cada jogador siga sua crença, mas não aceita a presença de líderes religiosos na concentração, como era comum na era Dunga, por exemplo. Como no time, nenhuma empresa deve aceitar interferência religiosa no seu dia a dia, segundo Somoggi.
No futebol, os clientes agem movidos pela paixão, enquanto nas empresas as decisões são mais racionais.  De toda forma, a decisão final das diretorias segue a mesma linha: ganhar a competição. “Vida de técnico é como de diretor de empresa, por mais admirado e respeitado que seja, se não der resultado...”, sugere Hirsch.

Fonte : exame.com.br  

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