Mude! Mas mude de verdade

Parmênides dizia que “toda mudança é ilusória”. Assim, de bate-pronto, talvez você não concorde com a frase. Mas ele tem dois fatores a seu favor. Primeiro:
ter sido o filósofo mais influente da Grécia Antiga, no período pré-socrático, nos idos de 530 a.C. Segundo: a opinião dos funcionários de muitas empresas, certos de que as mudanças organizacionais “acabam sempre em pizza”. Ou seja, tudo volta como dantes na velha casa de Abrantes.

Lá no passado, porém, na mesma Grécia e em época semelhante, surgiu outro filósofo, que estremeceu a hegemonia de Parmênides. Seu nome é Heráclito. Sua máxima: “Ninguém se banha no mesmo rio duas vezes”. Para Heráclito, tudo flui e está em permanente mudança. E um dos rios de hoje é a internet, que muda a cada instante e já não é a mesma desde que você começou a ler este artigo.
Pense por alguns segundos antes de prosseguir: de que lado você está? De Parmênides ou de Heráclito?

Os dois tipos de mudança
Queremos mudar as coisas! Uma nova sede, uma nova máquina, uma nova logomarca, um novo gerente, uma nova filial, um novo parceiro de negócio. Se considerarmos esses eventos como mudança, estaremos inclinados a concordar com Heráclito, pois essas coisas implicam novas situações e condições. A cada ano um novo rio; a cada rio, um novo banho.
Mas essa, a das novidades, é uma mudança do tipo um. Ela muda as coisas, mas não o modo como vemos as coisas. Ou seja: podemos migrar para uma nova sede, adquirir uma nova máquina, mudar a logomarca da empresa, contratar um novo gerente, abrir uma nova filial e conquistar um novo parceiro de negócios, sem alterar nossa mentalidade. Se considerarmos esse aspecto, teremos de concordar com Parmênides: “Toda mudança é ilusória”.
Enquanto não mudarmos o modo como vemos as coisas, não conseguiremos uma mudança do tipo dois. E tudo tende a ficar exatamente como sempre foi.

O desafio da mudança
Segundo os cientistas, uma pessoa normal tem 60 mil pensamentos por dia, dos quais 95% são iguais aos que lhe passaram pela cabeça um dia antes. Sem nenhuma grande diferença do que ocorreu em sua mente no passado, ou seja, há uma semana, um mês ou um ano. 
A palavra ‘tipo’ nos remete a letra, sinal, e ‘estéreo’ nos remete ao que é sólido. Então ‘estereótipo’ são os nossos sinais tornados sólidos, cristalizados. E, lamentavelmente, não são poucos os estereótipos que nos governam. E isso tudo nos faz crer em Parmênides, quando diz que toda mudança é ilusória.

A magia da mudança
Mas há outra questão a considerar. A de que, sim, a realidade está mudando o tempo todo. Heráclito está certo quando diz que a mudança é contínua. Mas nem sempre nos damos conta disso. Uma empresa pode vivenciar um processo de envelhecimento sem que seus diretores notem os sinais. Podemos chamar de zona da ignorância aquela situação em que o indivíduo nem sabe que não sabe. Vive confortavelmente sua santa ignorância. Alguns são arrastados pelos ventos tempestuosos da mudança e acabam se adaptando. Mas será sempre uma adaptação, sem que haja compreensão e aprendizado sobre as verdadeiras razões da mudança da realidade.
Se por um lado a mudança é contínua, por outro, a mudança de percepção é repentina. Ou seja: de repente você se dá conta de que a sua empresa envelheceu, de que você não é mais aquele jovem atraente ou aquele líder persuasivo. É claro que todas essas coisas vêm acontecendo há algum tempo, mas você não tinha percebido. De repente, não mais que de repente, passa a ter um novo olhar sobre as coisas. E as coisas são devolvidas a você com novos significados. Essa é mudança do tipo dois, a verdadeira mudança.
No oposto da zona da ignorância existe a zona do conhecimento. Nesta situação o indivíduo sabe que sabe. Ele consegue perceber a realidade e, muitas vezes, antes mesmo que a sua percepção tenha assumido uma forma concreta. É o caso de líderes visionários que conseguem enxergar novos produtos e novos mercados antes que estejam disponíveis. Tome como exemplo a Sony, com a história do walkman, ou da Apple com os seus produtos i. Ou de empresas brasileiras como a Natura, o Habib’s e a Cacau Show, que souberam criar novos mercados.

A força da fé
Mudança de verdade sempre será um ato de fé. Algo precisa acontecer na qualidade da nossa percepção, antes que ocorra na realidade. E isso implica acreditar. Dificilmente conseguimos enxergar algo se não acreditarmos que aquele algo exista. Nem sempre é fácil enxergar. Nossos estereótipos estão mais presentes do que podemos imaginar e eles nos impedem de ver a realidade como ela é. Mas, uma vez vista, encontramos o que é preciso, sem ter de procurar.
Exemplificando: se você quer que a sua empresa seja próspera, não vai adiantar mudar as coisas – ampliar a sede, comprar equipamentos ou instalar um novo software de informações gerenciais. O que você vai precisar fazer é mudar a sua percepção do que seja prosperidade.
Mudar para valer exige que você encare quatro desafios à sua liderança:
1) Desenvolver a visão sistêmica sobre a dinâmica da mudança, compreendendo os seus dois tipos.
2) Não se deixar enganar por suas percepções estereotipadas, ou seja, acreditar que elas representam a verdade.
3) Assumir que você é, antes de tudo, um gestor de percepções. Tem de alcançar a zona do conhecimento, enquanto se afasta da zona da ignorância.
4) Diminuir o gap entre a realidade e percepção. E isso é um movimento nos dois sentidos: de perceber a realidade e de tornar real a sua percepção.

Afinal, quem está com a razão?
Parmênides tem razão: ele se refere à mudança do tipo um, aquela que muda as coisas, mas não o modo como vemos as coisas. E, portanto, toda a mudança tende a voltar à estaca zero. Heráclito tem razão: ele se refere à mudança do tipo dois, aquela que muda o modo como vemos as coisas e, nesse sentido, ninguém se banha duas vezes no mesmo rio. Ainda que o rio seja o mesmo, quem se banha já não é mais a mesma pessoa. Quando mudamos a percepção, o mundo todo muda ao nosso redor.
Junte a sabedoria de ambos e faça dos seus desafios de mudança uma contundente transformação!

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