O trabalho mudou. E você? Dez constatações



Para registrar algumas importantes mudanças que afetaram as relações profissionais nos últimos 20 anos. Você pode ter sido beneficiado ou vítima dessas constatações:




1. O Brasil vivenciou transformações econômicas e políticas intensas que afetaram nossas crenças e nossas formas de trabalhar. Uma palavra pode resumir esse processo: abertura;

2. Abertura política: nos últimos 25 anos, experimentamos pelo voto todo o suposto leque ideológico disponível e encontramos alinhadas no cenário político hoje personalidades que antes pareciam defender ideais antagônicos. Se todos concordam com estabilidade econômica, crescimento, redução das diferenças sociais e desenvolvimento sustentável, a discussão deixou de lado um pouco a inflação que nos sufocava lá atrás para trazer à tona questões de primeira ordem como os males da corrupção e da visão flexível das práticas éticas. Redução das diferenças sociais e da discriminação são exigências imediatas;

3. Abertura social: nesse campo, importante destacar que as empresas deixaram de ser uma caixa preta cercada por muros altos para começar a desenvolver uma atuação institucional integrada com a comunidade que a cerca e que consome seus produtos. As relações sindicais e de gestão com os empregados mudou de patamar. As discussões amadureceram, as estratégias são mais compartilhadas, as responsabilidades foram delegadas e a performance foi atrelada ao resultado. O trabalhador é estimulado a olhar sua relação de trabalho combinando estratégia e valores pessoais, sucesso e qualidade de vida, desempenho e segurança. Mulheres, minorias e pessoas portadoras de necessidades especiais crescem sua presença no ambiente de trabalho aumentando a tão desejada diversidade;

4. Abertura econômica e estabilidade: o processo iniciado no começo da década de 90 promoveu profundas alterações na forma de produzir. Se por um lado a indústria reduziu seus empregos e sobrecarregou seus empregados vitimados pelos processos de reengenharia que buscavam eficiência de custo a qualquer custo, oportunidades surgiram nos setores de serviço e agropecuário. Os produtos dessa mudança podem ser identificados na formação de um profissional com visão menos especialista e mais de processo;

5. Nenhuma das constatações anteriores pode ser considerada isoladamente sem levar em conta as impressionantes mudanças tecnológicas que fizeram parte do cotidiano de todos nós e que afetaram profundamente a forma de viver e trabalhar. Se nos últimos 20 anos as mudanças aconteceram em ciclos de três a cinco anos, o fato é que um ciclo de um profissional dura mais de 30 anos. A conclusão é de que convivem hoje no ambiente de trabalho pessoas das mais variadas gerações tecnológicas com velocidades, expectativas e experiências diferentes disputando o mesmo poder de decisão;

6. Também é preciso olhar uma consequência natural de todas as constatações anteriores: o poder aquisitivo subiu e toda uma classe social mudou seu padrão de consumo. Essa realidade exige das empresas e de seus empregados desenvolver uma capacidade de leitura das demandas de um mercado até então inédito;

7. Abertura da informação: neste campo, fruto e fonte das constatações deste post, uma marca passa a estar associada à conduta nas esferas públicas e privadas, entre empresas, comunidade e consumidores, entre empregado e empregador. Trata-se da transparência. Fácil de falar, difícil de garantir;

8. O chefe passou a ser exigido como líder. O poder supremo do comando passou a ser instrumento para facilitação do desempenho da equipe. Agregou responsabilidades de gestão de seus recursos humanos até então reservadas para um tal de departamento pessoal. Nessa batalha, muitos tombaram, despreparados para as novas demandas. O fato é que os gestores que chegam ainda não estão prontos para lidar com pessoas cobrados que são por resultados cada vez mais sufocantes. No final das contas, ainda são considerados gargalos nas empresas em busca de resultados superiores;

9. Na esteira da constatação anterior, o departamento de Recursos Humanos percorreu um longo caminho de transformação. Arrastado pelas reengenharias e qualidade total, muitas delas feitas sem o menor critério, o RH chega hoje com a missão de ocupar definitivamente seu papel estratégico nas organizações. Realidade difícil se a língua falada pelos CEOs ainda está mais alinhada com o departamento financeiro do que com o orçamento de treinamento e desenvolvimento;

10. Gostaria de concluir estas observações com aquela que me parece a fundamental para consolidar todas as transformações vividas e aquelas que são exigidas para a consolidação da prática cidadã de uma nação séria e responsável: a educação. Nossas escolas, desde a fase infantil, passando pelo fundamental, ensino médio, técnico e superior, devem viver uma revolução que prepare as pessoas para esse futuro. Pelos bancos escolares reais ou virtuais, guiados pelas mãos seguras de professores preparados, nossas principais inquietações de formação devem ser tratadas. Os próximos 20 anos estão sendo escritos, em cadernos ou tablets, por crianças de seis anos.

O que mais mudou ou ainda deve mudar no trabalho?