Logística: os desafios da distribuição pelo Brasil


Entrega de produtos para a região Norte está sujeita a inúmeras intempéries que podem influenciar no prazo e no valor do frete; entenda os motivos
Em parte da Região Norte do Brasil, o período entre os meses de outubro e março é chamado de "inverno" (ou até de inferno, por alguns), embora o período englobe a primavera e verão. Essa denominação diferenciada acontece, pois as fortes chuvas e as cheias dos rios da região amazônica fazem com que as águas cubram a BR 364, sua principal rodovia. 

O estado do Acre, em particular, é cortado por vários afluentes do rio Amazonas, todos caprichosamente transversais, formando a figura de uma espinha de peixe. Sua capital, Rio Branco, está próxima à fronteira com Rondônia e muitas cidades acreanas importantes ficam na parte mais ocidental. 

Para atravessar o estado, é necessário seguir em sentido paralelo ao rio Amazonas, cruzando com diversos rios, riachos e córregos. Estes, com seus níveis elevados, até pouco tempo atrás alagavam muitas partes da BR 364, impedindo completamente o tráfego, pois boa parte dessa estrada era de terra, que se transformava rapidamente em barro intransitável. 

Com isso, cidades como Cruzeiro do Sul, segundo município do estado, com cerca de 80 mil habitantes, além de outras importantes cidades, como Feijó e Tarauacá, ficavam completamente isoladas dificultando o processo de distribuição, ocasionando na demora de entrega e encarecimento dos produtos. 

A solução logística utilizada era levar os produtos de Rio Branco a Porto Velho (portanto, no sentido contrário ao seu destino final) via transporte rodoviário e embarca-los em balsas contratadas pelos distribuidores. A partir do embarque, a responsabilidade pela chegada e retirada dos produtos ficava por conta dos clientes. 

Estas balsas subiam o Rio Madeira até o Rio Amazonas, passando em Manaus, via Rio Negro, onde faziam transbordos de mais produtos para complementar a carga, voltavam até o Rio Solimões, para finalmente subir o Rio Juruá (rota para Cruzeiro do Sul) ou Rio Purus (Rota Feijó e Tarauacá), chegando ao norte do estado. 

Todo este percurso representava, entre frete, despesas portuárias de carga e descarga, e frequentes avarias, um custo de transporte entre 12% e 25% sobre o valor de venda dos produtos, dependendo de seu valor agregado. O tempo médio para a chegada dos produtos ao cliente final era de 50 dias, representando para o consumidor um acréscimo de 25% a 50% sobre o preço final. 

Para agravar ainda mais o quadro, esta cultura inflacionária abriu precedentes para a cobrança de preços acima do custo de frete, com a formação de cartéis entre os grandes comerciantes da região, que passaram a ser donos das balsas e únicos com poder econômico para formar longos estoques, assumindo o total controle de preços e abastecimento da região.Ao longo de 2011, muitas pontes e galerias foram construídas para manter a BR 364 trafegável, além da sua elevação em alguns pontos, mas ainda havia trechos importantes sem asfalto. Agora a rodovia está cerca de 90% asfaltada e, onde não há asfalto, foi feita uma cobertura de cascalho. 

A possibilidade de abastecimento do norte do estado via transporte rodoviário representa um marco na vida destas pessoas e das distribuidoras que atuam na região. O tempo médio entre expedição e entrega passará para dois dias. O preço final dos produtos ainda estará acima do praticado na capital, afinal são 672 Km de estrada, porém, a diferença entre eles deverá cair para cerca de 15%. 

Conversando diariamente com profissionais de distribuição em todo o Brasil, percebemos que histórias como estas passam despercebidas pela grande maioria. Daí a importância de se destacar como mudanças na estrutura de transporte e nos processos logísticos podem interferir de maneira significativa na vida de milhares pessoas.

Fonte : http://www.administradores.com.br