Estresse no trabalho nem sempre é ruim


Em algumas empresas, as equipes com melhor desempenho são as que têm os profissionais menos satisfeitos
Muita gente reclama que está muito estressado no trabalho. Mas ajudaria saber que, na realidade, isso pode ajudar no desempenho profissional? Ou que o pensamento negativo, aplicado com cuidado, pode fortalecer as empresas? Um grande número de pesquisas sustenta essas hipótese, apesar de a filosofia predominante focar em melhorar o engajamento dos funcionários, diz o psicólogo organizacional Lewis Garrad ao Fórum Econômico Mundial.

“Se você olhar para as pesquisas, a correlação entre engajamento e desempenho está longe de ser perfeita, o que significa que muitos indivíduos e equipes ‘engajados’ não estão entregando os resultados que os líderes esperam", diz. "Mas em algumas empresas, você descobre que as equipes com melhor desempenho são as que têm os profissionais menos satisfeitos.”


Estresse pode trazer coisas positivas e negativas ao ambiente de trabalho

Em 2016, Garrad escreveu um artigo com Tomas Chamorro-Premuzic, professor de psicologia para os negócios da University College London. Eles reconhecem que há uma grande ligação entre engajamento e produtividade, mas também alertam que algumas empresas desprezam os benefícios da insatisfação e ansiedade no trabalho.

Chamorro-Premuzic afirma que enquanto as mentalidades positivas podem trazer “abertura e criatividade” ao ambiente de trabalho, um sentimento negativo é capaz de trazer “foco e atenção”. Ele cita pesquisas que sugerem que indivíduos menos satisfeitos muitas vezes são os mais motivados, melhor preparados e com melhor pensamento crítico. “Eles também são mais propensos a desafiar o pensamento do grupo e o status quo, o que é chave para incentivar a inovação em uma grande organização.”

O risco é que se os gestores focam toda a sua atenção em aumentar a moral e lutar contra o estresse, podem acabar deixando de lado outros fatores que incentivam o bom desempenho, como uma liderança forte ou cultura aberta. Essa postura também pode gerar complacência, diz Chamorro-Premuzic. Ele afirma que isso é especialmente perigoso para as empresas grandes. “Quando as companhias se tornam grandes e dominantes, se tornam vítima do próprio sucesso. O engajamento dos funcionários muitas vezes é um produto da complacência e felicidade, que acontecem depois do sucesso.”

A chave é encontrar o equilíbrio de estresse

Se algum nível de estresse e ansiedade podem melhorar o desempenho, um exagero pode ser prejudicial. No Reino Unido, 12,5 milhões de dias de trabalho foram perdidos por causa de estresse, depressão e ansiedade no trabalho em 2016 e 2017. Os fatores que causam o estresse incluem carga de trabalho excessiva, falta de apoio e bullying.

Mas então, qual é o nível certo de estresse para melhorar o desempenho das equipes? A professora de marketing da London School of Economics, Heather Kappes, diz que o pensamento negativo pode ser bom para os negócios, mas há uma forma correta para isso. “Não é pensar ‘isso nunca vai dar certo’, é mais ‘eu posso imaginar que isso será difícil’. Quando as pessoas pensam da segunda forma, normalmente ficam mais empenhadas em trabalhar duro e fazem planos para superar os problemas que imaginaram. Isso pode ajudá-las a encontrar soluções criativas”, diz ela. A moderação é a chave para colocar isso em prática, mas encontrar o equilíbrio pode ser difícil.

Funcionários diferentes precisam de abordagens diferentes

Aumentar a pressão em um departamento inteiro pode aumentar a energia no curto prazo, mas pode ser pouco produtivo no longo prazo. Em vez disso, os líderes deveriam conhecer cada um de seus funcionários para conseguir lidar com eles de forma mais eficaz.

“Pessoas muito ansiosas sentem o estresse com facilidade, então precisam de mais encorajamento e mais apoio. Aqueles que são muito ajustados emocionalmente podem precisar de uma atenção mais focada para gerar a energia e esforço de que precisam para melhorar”, diz Garrat.

O estresse exacerbado se torna prejudicial à saúde e bem estar quando dura muito tempo e se torna crônico. Por isso, os gestores devem tentar equilibrar momentos estressantes e períodos mais relaxados e de recuperação, diz Garrat. Eles também podem tentar estabelecer metas para cada um da equipe.

“Simplificando, o estresse é um sinal sobre as ameaças do ambiente, e é melhor reagir a ele do que ignorá-lo”, diz Garrad. “As pessoas precisam entender que bons empregos irão causar estrese, e não deveriam tentar evitar senti-lo.”

Fonte : https://epocanegocios.globo.com