Inovação e criatividade em tempos incertos

O momento não poderia ser mais oportuno para inovar. Só é preciso conter o medo
Independentemente do contexto, sempre houve o desejo e a necessidade de inovar. Mas há, claro, situações em que pensar fora da caixa está mais para questão de sobrevivência. É esse o caso, em meio à pandemia. Porém, é preciso separar o aspecto da inovação pela inovação, que vai além do hype, da sala colorida, etc. Não é disso que estamos falando. Aqui se trata de processos mais profundos. O mundo está em um período de grande transição; não sabemos para onde estamos indo. Só podemos afirmar que teremos um “novo” novo normal e que, por isso, processos de inovação, no contexto das empresas, são ainda mais importantes.

E as pessoas (os profissionais) precisam estar ligadas a esse movimento. Várias profissões deixam de fazer sentido e outras tantas nascem, já parou para pensar nisso? A reinvenção do profissional também é um chamado nesta época tão intensa. E a beleza de tudo isso é que agora, mais do que nunca, os recursos estão super disponíveis. Muitos conteúdos on-line, cursos, debates - gratuitos! Existe, sim, propósito de inovação, mas, atenção: cuidado com o “novidadeiro”. O risco é real: empresas e pessoas entram em algo que consideram inovação, mas que, na verdade, é passageiro e supérfluo.


O fato é que inovação está ligada à criatividade. Muitos dizem que as pessoas nascem criativas, mas será mesmo? Eu particularmente não concordo. Para mim, criatividade se desenvolve. Talvez alguns sejam mais propensos a essa característica, mas entendo que, de modo geral, essa é uma habilidade a ser despertada, treinada, incrementada, aprendida. Quem tem vocação pode ir mais rápido; quem não tem precisa se dedicar um pouco mais. E puxando pelo lado corporativo, é a mesma coisa. Até as empresas que não têm a inovação no seu DNA podem inovar (às vezes, com algum sofrimento, é verdade). Com disciplina e método, tudo é possível. O tempo não poderia ser mais oportuno. Só é preciso conter o medo...

Em um efeito contrário (e 100% danoso), o momento atual pode promover a estagnação de uma companhia. As incertezas sobre o futuro trazem medo, e, na minha visão, esse é o maior fator imobilizante. A pergunta, então, é: como se faz inovação nesse cenário? Lançando mão de uma cultura que aceita o erro, com processos claros de experimentações e aprendizados rápidos!

Nesse sentido e sobretudo considerando as circunstâncias atuais, diferenciar inovação (algo sólido, transformador) de hype (uma novidade incrível, mas passageira) é ponto-chave. Dá para fazer isso, em parte, estudando e entendendo a discussão. Senão, o jeito é testar, experimentar. E quando você experimenta, a magia acontece: a primeira ação gera a segunda, que leva à terceira e assim por diante. Tem mais: o interessante é que as experimentações contam com ciclos cada vez mais curtos. Antes, eram 90 dias; agora, são ciclos semanais ou ainda menores, tudo para que o aprendizado seja rápido.

Testes ligeiros e efetivos conduzem a aprendizados, a correções de rotas e, enfim, a acertos e transformações positivas. Temos que nos mobilizar, tomar atitudes e decisões mesmo diante das incertezas, dos medos. As empresas que entenderem isso seguirão por uma trilha inovadora e sairão dessa travessia muito melhores, posso apostar.

Ainda sobre inovação e criatividade, levanto dois pontos, ou reflexões. O primeiro é a curiosidade. Eu mesmo nunca deixei de ser um cara curioso sobre as coisas, querendo entender o que vem por aí. Sigo vendo, lendo e discutindo. Estou distante de ser um profeta, mas o que vem depois é um “novo” novo normal. Também é importante lidar bem com os medos, as angústias. Não dá para resolver isso, mas dá, sim, para ter boas conversas com essas emoções, traduzindo-as e checando o que elas de fato representam para você.

Para fechar, minha última mensagem: agora é hora de colaborar. Se tem uma coisa que me faz manter a energia - nada a ver com ser otimista, porque eu também tenho minhas preocupações e meus medos - é ajudar quem precisa. Seja um colega de trabalho, seja um familiar, seja alguém que você nunca viu. Veja como seu talento pode contribuir. Isso é poderoso demais. E ao dar essa contribuição, você recebe tanto de volta… A inovação flui. O “novo” novo normal está sendo feito de pessoas que estão criando isso exatamente agora.

*Bob Wollheim é empreendedor, mentor, escritor e Chief Strategy Officer da CI&T, multinacional brasileira especializada em transformação digital.

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